qual é o teu porquê?

22:24.

Já pensei sobre o porquê de criar arte ser o que mais me atrai. Desde há muito tempo que é a única certeza que tenho. Não me imagino a ficar confinado a unicamente um meio de expressão artística, mas a criação é comum a todos os meus interesses. O mais próximo que estive de ponderar outro tipo de profissão foi quando estava na escola primária e queria ser biólogo marinho. Porquê biólogo? Não faço ideia. Porquê marinho? Boa pergunta.

Que coisa tão específica que a minha mente de criança imaginou. Sempre gostei de animais, de nadar e ir à praia. Talvez tenha sido essa a ligação. Quando somos crianças encontramo-nos mais próximos ao estado mais puro do ser humano, antes de sermos condicionados pela cultura, sociedade e comunidade. Não temos “regras sociais” na cabeça quando nascemos, e ainda aguentamos uns anos a desviar-nos delas até que acabamos por ceder inconscientemente. Talvez por isso tenha pensado em ser biólogo marinho.

Quando crescemos entra em jogo aquilo que condiciona a nossa vida: dinheiro. E muitos acabam, quer por falta de possibilidades ou por falta de ambição, escolher uma profissão que lhes permita unicamente sobreviver. Só quem tem as suas necessidades básicas asseguradas é que se pode pôr para aí a pensar nessa coisa que é o sentido da vida ou aquele mito da realização pessoal.

Muitos de nós andam nessa procura. A experimentar, a explorar. E acredito que, para quem se disponibiliza para estar sempre a aprender, essa procura não tem fim. É aquela coisa: o que importa não é tanto o resultado mas sim o processo. Mas enfim. Porque é que criar arte é o que eu quero fazer?

Não sei. Mas sinto uma ressaca descomunal se não canalizar o que penso e o que sinto para objetos que possam comunicar essas mesmas emoções ao mundo.

Mas para que uma profissão nos permita sentir algum tipo de realização pessoal precisa de envolver uma coisa muito importante: o outro. Se a nossa profissão for algo que nos apaixona, é muito mais fácil trabalharmos e sermos bons nisso porque não sentimos que estamos a trabalhar. E, para além disso, deve prestar um serviço à comunidade. Todos temos uma essência única que nos torna a todos partes essenciais de uma engrenagem, e é essa essência e esse serviço que devemos explorar para podermos servir o outro. Todas as profissões servem os outros: médicos curam pessoas, políticos gerem o país, agricultores providenciam comida, arquitetos e trabalhadores de construção civil constroem, artistas permitem às pessoas conectarem com as suas emoções através de arte, etc. Se pensarmos nisso, todos precisamos uns dos outros.

Somos seres interdependentes e a nossa felicidade é feita dessa forma. Como no filme Into The Wild: happiness is only real when shared. Parece um clichê mas é verdade.

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8 Responses
  1. Luísa

    Interessante, estou agora a fazer a minha escolha para a faculdade. E estando tbm eu artes estou numa constante procura de entender para que servem as artes? Ou melhor, para que é que eu sirvo nas artes? Ou até para que é que eu sirvo na sociedade? E já percebi que esta resposta é daquelas lixadas que só a viver é que chego lá. Nesta procura do que quero fazer, falei com muita gente nos cursos que ando a ponderar ou pessoas nas áreas. O meu tio é arquiteto (curso que penso seguir mas não profissão) e estávamos a falar sobre os trabalhos que já teve e como é ser arquiteto e ele falou-me exatamente desse filme, porque eu partilho estes meus dilemas de vida com ele ahah e ele disse logo, devias ver este filme. E ainda não o vi, mas ele contou-me a história por alto e eu percebi o que ele me queria passar. É isso. Essa é a resposta. Eu sou eu, tenho a minha essência. Mas eu só vivo, só me aguento, com os outros. Eu só sou porque os outros tbm são. Eu sou porque os outros me veem. E isso dá-me a resposta. Não me diz qual é o curso que devia seguir mas diz me a atitude com que o devo viver.

    Já agora, parabéns pela tua curta, adorei ver trabalho teu de vídeo! Se quiseres ver a minha indecisão de área exposta num website publicado mas meio inacabado: luisascgomes.wixsite.com/website-1

    🙂

    1. miguelluz

      hello! curti muito do estilo de brincos que vi no teu site. e pareces ter um grupo criativo. continua!

  2. Olá Miguel!
    Já há muito tempo que te acompanho, e sem dúvida estás na tua melhor fase, pelo menos na minha opinião. Partilho muitos interesses contigo, principalmente a música. Adoro o teu trabalho, continua com estes textos no blog, em que abordas assuntos muito interessantes!

    Obrigado por seres uma inspiração, abraço.

    Sérgio Portela

  3. Serignoto

    Lembra-me uma citação:
    “Os rios não bebem a sua própria água; As árvores não comem os seus próprios frutos; O sol não brilha para si mesmo e as flores não espalham a fragrância para si. Viver para os outros é uma regra da natureza. A vida é boa quando estamos felizes, mas a vida é muito melhor quando os outros estão felizes por sua causa. Quem não vive para servir, não serve para viver.”
    – Papa Francisco

  4. Carolina

    Em primeiro lugar, acho que todos nós quando éramos crianças ( ou pelo menos um grande número) ja tivemos o desejo de ser biólogos marinhos. Eu recordo -me que houve uma altura em que eu gritava a todos os ventos que queria ser uma educadora de infância e bióloga marinha. Até cheguei a querer ser veterinária,mas depois com o passar do tempo apercebi-me que eu era tudo menos boa a matemática. Mais tarde comecei a ter uma ligação mais forte com a área da escrita e das artes,mas o tempo foi passando e apercebi-me que eram áreas em que infelizmente não podia vir a arriscar. A minha familia é maioritariamente da aldeia,nunca ninguém tirou um curso superior e eu sempre senti que tinha como obrigação ser a primeira pessoa da família a tirar um curso e em especial numa que me pudesse transmitir uma melhor segurança para toda a minha vida .
    Emigrei para Inglaterra aos 19 anos para estudar mas o meu primeiro curso nao tinha nada de relacionado comigo. Acabei por alterar o meu curso para Direito porque na minha cabeça,mesmo que não quisesse tornar-me advogada tinha
    mais portas abertas para outros mestrados.
    Por incrível que pareça foi a melhor decisão que tomei em toda a minha vida! Apaixonei-me imediatamente por um curso que nao estava nada à espera e neste momento quero seguir a área de Direito Criminal .
    No entanto quanto mais me foco nestas responsabilidades e no curso menor ligação tenho com as artes. Tenho tentado criar mas parece que nada flui e tenho sempre o medo de que nunca mais vá ter a relação que tinha antes.
    É como se o meu corpo dissesse ” tiveste a oportunidade de seguir artes,não quiseste agora aguenta “.
    O pessoal à minha volta diz que estou a colocar imensa pressao e é por isso que as coisas nao fluem e até pode ser verdade mas nao sei neste momento é difícil criar é tentar novos projetos.