pássaro na gaiola

Ontem estive na casa dos meus avós e não pude deixar de notar no pássaro que habita uma gaiola na cozinha. Pus-me a pensar nele e fiquei com pena. Confinado a um espaço tão pequeno, canta sem fazer a mínima ideia da imensidão de espaço que existe por explorar para além das imediações da gaiola. Para ele o mundo é aquela caixa de ferro.

E se lhe abrisse a porta? Sairia a voar pela janela a sentir a liberdade por baixo das asas?

O pássaro nasceu em cativeiro. Foi posto na gaiola por um tratador e nunca conheceu outro espaço. Nunca sentiu a liberdade por baixo das asas como os outros pássaros que vemos no céu. Se um pássaro livre pousar no alpendre da parte de fora da sua janela, o pássaro da cozinha terá inveja? Ou pena?

Pensei se não estaríamos nós numa mesma gaiola metafórica com limites, não metálicos, mas invisíveis, que impomos a nós próprios. Sabemos que existe mais mas, pelo sim pelo não, é melhor ficar aqui.

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5 Responses
  1. Francisca

    E se a porta da gaiola não for uma limite mais sim uma fronteira?
    Não sei mas…
    Será que somos nós que criamos esses limites? Não sei mas…
    E quando os limites nos são impostos? Não sei mas…
    Se eu não conheço uma realidade vou ter vontade de lutar por ela? Não sei mas…
    Obrigada por esta reflexão!

  2. clara

    O ser humano coloca-se numa posição de superioridade em relação ao pássaro enjaulado porque conhece que existe uma realidade potencialmente mais livre para ele – sabemos que ele poderia voar, identificamos um potencial leque de sensações, comprovadamente existentes, das quais ele nunca tomará cognição. Por consequência ganhamos o privilégio de ter pena, como disseste, que nos deixa falsamente mais certos da nossa própria condição.
    Não, será, no entanto, esta pena um mecanismo de conforto? Não cairemos na tentação de tomar por indução que, se o pássaro está preso na jaula (não a reconhecendo como tal), tendo certamente o potencial de liberdade no exterior (que não sabe ser um espaço), nós ainda simplesmente não somos livres porque, tal como o pássaro, estamos numa jaula metafórica que não podemos ver, como disseste, com tanto potencial para expandir, se nos conseguirmos libertar? Esta tentação e consequente resultado lógico alimenta-nos de uma falsa esperança — porque, na verdade, mais trágico do que a nossa prisão inconsciente será a possibilidade de não estarmos presos de todo. Não temos a sorte do pássaro, a de alguma vez poder escapar, porque nossa jaula não existe, e a vida é mesmo só isto.

  3. Mariana

    Olá, só queria dizer que o teu blog me incentivou a criar o meu próprio (algo que já queria fazer há algum tempo)! Ainda não tive coragem de o divulgar e partilhar, mas já foi um começo! Obrigada

  4. Ana Soares

    Nós, neste momento, por causa de um bichinho, estamos na gaiola.Nós fomos criados em liberdade, se não formos libertados seremos sempre infelizes. O angustiante é saber que, mesmo em liberdade, fora da gaiola, muitos de nós seremos infelizes da mesma forma!