ESCRAVOS

Que somos escravos do telemóvel já todos sabemos. Perdemos tempo, enchemos a cabeça de informação inútil e às vezes até competimos pela vida mais perfeita com pessoas que não conhecemos. Já sabemos isto tudo. Os telemóveis aprenderam a infiltrar-se no nosso dia-a-dia sorrateiramente mas, nos últimos dias, o meu anda a dar suspeitas demais.

Tenho passado os dias sem pegar no telemóvel. Acordo, atiro-o para a cama para não me distrair enquanto tento encontrar uma melodia qualquer ou faço outra coisa produtiva e na maior parte dos dias só volto a ir buscá-lo à cama depois do jantar. E, assim que pego nele no final do dia, tenho sentido uma sensação de peso. Como se lhe devesse alguma coisa. Como se me dissesse num tom irónico daqueles que se ouve numa relação amorosa que começa a dar os primeiros sinais de tensão “Passaste o dia todo sem me dar atenção, não foi?” e mostra-me as 20 notificações de várias conversas pendentes, à espera de uma reação minha. E isso transmite-me peso. Nem de longe isto está relacionado com o eu querer ou não responder àquelas pessoas, mas sim com a forma como tudo é bombardeado na minha cara.

E se o desligasse? Se me tornasse numa daquelas pessoas fora do radar que tem a coragem de dizer que não tem telemóvel? Ou que tem um Nokia de 2011 estritamente para fazer chamadas? Tornar-me-ia numa pessoa mais feliz sem esse peso? A tecnologia tem destas coisas.

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7 Responses
  1. Joana

    Também ando de relações cortadas com o telemóvel… Acho que estou a perceber que não há nada como o mundo real e a tentar aproveitá-lo mais (ou se calhar sinto-me qb de inútil e ter mais de 1 hora de atividade diária no instagram aumente exponencialmente esse sentimento)

  2. Carolina

    Okay eu sinto que comento muito aqui e estou a tentar controlar-me mas tenho de partilhar esta história:
    Há 2 anos atrás estava obecada com o telemóvel .Tipo nao sei explicar mas parecia que nao saía daquele mundo virtual e era horrivel.
    Fui para Portugal visitar a família e quando voltei para Inglaterra o meu telemóvel caiu na sanita do aeroporto.
    Decidi desde então nunca mais vir a ter um telemóvel, tenho um daqueles samsung velhos para emergências.
    Cada vez que sinto a necessidade de estar numa rede social,peço o telemóvel ao meu namorado e ele empresta-mo.
    Devo dizer que me ajudou imenso ,sinto-me mais conectada com mundo real,acabo por procastinar menos e ter uma melhor relação com amigos e família.
    Se calhar estou a exagerar,mas eu vejo tanto pessoal a viver para os outros. Para um mundo digital que não existe verdadeiramente. É tão irritante por vezes ir tomar café com alguém e não podermos passar tempo com essa pessoa sem que esta nao utilize o telemóvel … Just enjoy the moment is not that hard…
    Anyway vou tentar começar a escrever comentário mais curtos 😂😂😂 continua com o bom trabalho miguel.

  3. Realmente, também tenho cada vez mais sentido que os telemóveis nos tornam bué submissos. Às vezes dou por mim a literalmente queimar tempo a ver stories, que é 90% conteúdo inútil… poderia estar a fazer outras coisas tão mais interessantes, como ler, desenhar, escrever… esse tipo de cenas, no entanto fico a dar scroll nas minhas time lines.
    O problema é que isto é tudo um vazio existencial coletivo, o facto de todos usarem o telemóvel faz com que eu ou outros também tenham que o usar. Por exemplo, agora que estamos em quarentena tenho que estar muito perto dos meus aparelhos digitais para receber updates da escola (trabalhos, testes, …) e torna-se difícil, por mais que queira de lagar o telemóvel. E às vezes dá-me um certo trigger o facto de saber que estou submisso a uma tecnologia.
    Isto é tudo kinda irónico porque o meu curso é de informática, não é que não goste do que faço, porém acabei de me aperceber que pareço uma beca estúpido.
    Enfim, continua com o teu trabalho, adoro ouvir os teus podcasts e ver os teus outros conteúdos… faz-me mesmo sentir que estou a falar com alguém porque dá para perceber o quão transparente és quando fazes a tua cena.

  4. maggy

    Eu tenho um nokia a um ano e devo dizer que mudou mesmo a minha vida!
    Os meus níveis de ansiedade desceram e os de produtividade subiram.
    Apaguei todas as minhas redes sociais sem ser o twitter e houve um busto na minha autostima.
    Continuo a usar a internet, mas é tudo muito mais balançado porque só uso o computador ao fim do dia. Acho que estou mesmo a viver e a preocupar-me com oq interessa.
    Aconselho muito que pelo menos faças a experiencia! Apesar de achar difícil porque o teu trabalho depende bastante das redes sociais e da internet.

  5. pessoalmente, sou escrava do telemóvel desde que me lembro de ter um (e olha que ainda sou do tempo do hi5). tento muito não ser, e sinto-me tão mais leve quando estou longe dele e ele longe de mim. mas depois é o trabalho, os amigos que não vivem por perto; e a sensação de não fazer parte da vida deles. mas ao “estar” na vida deles, não estou na vida dos que estão por perto. e acabo por sentir que não estou na vida de ninguém, porque até esse estar virtual acaba por ser superficial e vazio de conexão por ser tão ininterrupto, e acabo a sentir uma solidão que não sei como resolver, mesmo estando rodeada de pessoas que me querem bem. não sei. espero um dia conseguir (e que consigamos) pôr um balanço nisto, acho que o segredo está aí. no balanço. ou talvez esteja na renúncia. não sei. esta vida é feita de não seis.

  6. Beatriz

    A nova séria da RTP play “Instaverso” que estreou hoje critica a forma como a população está tanto agarrada a estes dispositivos digitais e mais particularmente às redes sociais. Para além disso, alerta-nos para a falsa imagem que maior parte dos utilizadores transmitem, este que é o maior perigo das redes sociais.
    Aconselho!
    Continuação de um bom trabalho!