ler ao sol no telhado da garagem

19h27.

Hoje fiz algo que os meus amigos italianos desaprovariam severamente: comi uma pizza congelada. Nunca pensei fazer tal coisa depois de vir do país das pizzas mas fiz e soube-me bem. O dia bonito lá fora fez-me parar de ver o Pulp Fiction a meio (que vou acabar de ver a seguir ao jantar, calma) para ir ler para o telhado da garagem. Escolhi esse sítio porque é o sítio em que me sinto mais imerso no verde dos pinheiros e para poder levar com sol. Sempre tive esta tendência de gostar de ir para sítios altos. Não sei porquê. Talvez por causa de uma vontade de contemplar as coisas de uma perspetiva superior, mais calma e onde me sinto no controlo. No controlo de nada, no fundo, mas imagino que se possa comparar à sensação de uma ave pousada num sítio alto a observar o que se passa terreno lá em baixo.

Ando a ler A Insustentável Leveza do Ser e apesar de não ser um livro que me está a fazer querer acabá-lo com rapidez, estou a continuá-lo e a gostar. Deixar livros a meio é um desrespeito para com os livros. Se estes tivessem vida própria e sentimentos imagino que se sentiriam com a auto-estima em baixo quando as mesmas mãos que lhes pegam, os largam por desinteresse. Já deixei muitos livros a meio e, apesar de ser legítimo fazê-lo quando realmente não nos interessa, acho que já me aconteceu parar de ler um e passar para outro por não me estar a entusiasmar intensamente ou simplesmente por calanzisse (esta palavra existe?).

Sobretudo vivendo no apogeu da internet é fácil trocar o papel por um ecrã. Os livros são mais difíceis de prestar atenção, requerem mais esforço e paciência e muitas pessoas não a têm e querem satisfação imediata. Séries e filmes são bocados de cultura muito mais fáceis de consumir mas um livro é uma história a que voltamos várias vezes, em vários dias diferentes, e o universo que criamos na nossa mente a partir do que o autor escreveu está constantemente a tornar-se mais completo e rico. E o mais interessante é que um livro cria um filme diferente na mente de cada pessoa, com imagens, caras e espaços que nunca são os mesmos. Talvez por isso um livro esteja mais vivo do que um filme e fique, de facto, com a auto-estima em baixo quando o trocamos sem mais nem menos por outro qualquer.

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6 Responses
  1. bela

    não sou muito de deixar livros a meio, mas tem um que não leio há uns três anos ou mais, só faltava umas 50 paginas, ma vontade nunca veio haha

  2. Carolina

    Okay eu sei que isto pode soar estranho,mas eu era e sou obecada com os livros. No entanto ,há uns dois anos atrás eu estava a ter imensas crises de ansiedade e outros problemas e eu recordo-me que a minha maior frustração era o facto de eu nao conseguir concentrar-me em nada. Imagina eu estava a ler um livro e estava sempre a pensar em 1001 coisas e dava por mim a ler a mesma frase 5 vezes sem perceber do que se tratava. Comecei a deixar livros de lado e a sentir-me super mal porque eu queria ler,mas não conseguia ler por causa da ansiedade….e como sabia que a ansiedade me estava a obrigar a parar de fazer algo que gosto acabava ainda COM MAIS ANSIEDSDE.
    Ou seja eu tinha ansiedade por causa da ansiedade ( nao faço ideia se isto faz sentido).
    Felizmente as coisas estao melhores agora e finalmente já posso ler os livros que deixei para trás! Xx

  3. E estes pensamentos que me andam a intensificar a paz de espírito? Belo trabalho que andas aqui a fazer, Miguel, props! 🙌🏾
    Livros… Livros são fascinantes, não é verdade? É poder recriar uma alternativa àquela que nos é apresentada e fugir da realidade, de modo a que a possamos melhorar! Já li a insustentável leveza do ser e, embora tenha levado o seu tempo, foi bacano conseguir trazer alguma da essência cá para lá fora e aplicá-la no meu quotidiano. Já não me recordo ao certo do que é que foi, mas sei que fez sentido na altura! Deixo aqui uma sugestão: se nunca leste o “aparição”, de Vergílio Ferreira, dá-lhe uma oportunidade… É qualquer coisa de genial! 🌻