O calor ridículo que se sentia na rua impediu-nos de tentar apanhar boleia para a capital espanhola e decidimos apanhar um bus no Oriente. A viagem fez-se bem desde Lisboa. Conversámos, rimos, falámos sobre consciência canalizada em forma e mais assuntos de reflexão, e pelo meio disso tudo, o Janito entornou salada de feijão frade no banco.

Chegamos a Madrid às 21h, passadas oito horas, e estávamos completamente à toa, mas daí a pouco estávamos mais. Fomos ao supermercado comprar jantar e pensámos ir para um spot que a net indicava como possível sítio para acampar, mas não pensámos na possibilidade de que campismo selvagem na cidade talvez não fosse assim tão seguro e começámos a perguntar a pessoas sítios para pôr as tendas às onze da noite. Toda a gente disse que podia ser perigoso e ficámos reticentes.

“Tá tudo nas expectativas” disse agora o Gui no polibã.

Uma hora numa estação de metro a pensar em opções. Uma gaja tentou ajudar, falou ao telefone e falou-nos de possíveis hostéis para ficarmos, na zona do Sol, no centro de Madrid.
O Gui marcou reserva no primeiro e mais barato que apareceu e fomos a pé até lá. Acabámos por chegar ao melhor spot de sempre após estarmos completamente à toa em relação ao plano, ao que iria acontecer a seguir e, no fundo, ao nosso destino.

Existe ou não? Está definido? Era suposto chegarmos aqui?
As possibilidades estavam todas abertas.
Como estávamos de boa vontade, aconteceu, suponho.

Chegámos ao hostel, barulho, álcool na recepção, gajas e gajos. Subimos para o quarto que tinha dez camas lado a lado, cima a baixo, dividido em 2 partes. Por esta altura era já meia noite e tal e nem tínhamos jantado.
Tomei banho enquanto comia uma banana. Fui nu descascá-la ao lixo e um gajo que eu não tinha visto estava na cama dele. Bazei para a zona das nossas camas como se nada se passasse. Porque no fundo não se passava nada.

Saímos do hostel com indicações claras: para encontrar cerveja bastava encontrar uma esquina, e para comida, bastava ir para a esquerda. Fácil.
Compramos uma Mahou nuns chinocas e vagueámos. A sensação de estar sem plano, sem rumo, à deriva e ao sabor de um vento quente, que fez o Gui dizer que parecia que estava a mergulhar no ar, foi esplêndida. Abrasador.

Andámos à toa de chinelos e o Salema disse que dois travestis eram duas armadilhas o que é engraçado e nada sexista. Conhecemos um black de polo azul chamado Marcelo que tentava vender entradas para discotecas, às quais não iríamos de certeza.

“Boa sorte para o resto da tua vida” disse o Gui ao Marcelo depois de simpatizar com ele.

O Janito não parava de mencionar o quão boa estava a ser a noite e eu não podia deixar de concordar e cambalear a rir com ele. Numa rua cheia de lixo encontrámos animais de plástico de brincar e fizemos um exército no passeio.
Estivemos com o Félix numa praça, rimámos e improvisámos num beat e, do nada, conhecemos o Ras Deiverman: um cantor de reggae brutal com vibe e grandes sons. Curtimos! Mostrei-lhe a Manáda! e ele cantava connosco “Manáda! Bebendo limonáda! Comendo empanáda!”.Depois de nos despedirmos o Salema disse que quem lhe dera ser filho dele e a partir desse comentário ninguém conseguiu dizer nada mais engraçado sobre a situação.

Chegámos ao hostel e chillámos no átrio. Eu e o Janito conhecemos um zuca, o Gustavo, que só a meio da conversa é que percebemos que não era espanhol, e outro gajo completamente bebido que fumava um nite lá dentro. Este bacano não desistia de nos tentar convencer a seguir o nosso próprio rumo e a encontrarmos a nossa própria fórmula em relação a raparigas, porque o Zuca partiu sem preserva e ele não aprovava de todo a situação.

Fomos dormir.

Saímos do hostel depois de comer Cerelac e depois de acordarmos e estarmos praí duas horas a rir, chillar, tomar banhos e arrumar cenas, fomos até à cozinha fazer o almoço. Comemos carbonara com talheres de plástico e fomos passear aleatoriamente pelas calles de Madrid.

Entrámos no Parque Qualquer Coisa, mas mais vale chamar-lhe só Parque dos Repuxos porque passámos uma hora a saltar e a banhar-nos no sistema de rega que nem é um repuxo e apercebo-me agora que o novo nome com que batizei o parque também não faz sentido.
O Janito perdeu os óculos de sol. Teve bué piada ver o Gui a saltar os arbustos desastradamente.

Fomos ao supermercado comprar o jantar e almoço para o dia seguinte que ia ser passado a apanhar boleias em direção a Barcelona. Mais tarde perceberíamos que fora um flop.
Ficamos pela cozinha a cozinhar e eu decidi tomar conta do que era preciso fazer. Jantámos uns bifes, fizemos umas sandes e vimos na net o sítio em que iríamos apanhar boleia.

Fomos para o quarto.
O ar condicionado foi uma dávida nos constantes 40° graus que sentíamos. Escrevemos BARCELONA em cartazes e POR FAVOR : ) noutros, e fomos dormir depois de uma discussão quase política entre as duas partes cuja primeira, eu e o Salema, dorminhocos e que têm noção das horas de sono necessárias, queríamos acordar meia hora mais tarde do que o Gui e o Janito, que são uns conas que queriam obrigar-nos a acordar às 7:30h.

Acordámos às 7:45h e ficámos na cama até às 8h. Ao relembrar isto, mais tarde no comboio para Barcelona, eu e o Salema batemos com os punhos.
Tomei um banho gelado que me acordou mais do que precisava e comi Cerelac outra vez. Arrumámos tudo e às 8:30h estávamos na rua.

A luz da manhã nas ruas de Madrid estava bonita. Apanhámos comboio para a estação de São Fernando em que íamos apanhar as primeiras boleias, mas duas horas a tentar não deram em nada, depois de um progressivo decrescendo da ambição da boleia. Passada uma hora, para além do cartaz a dizer BARCELONA, agarrava num cartaz com novas letras a dizer ZARAGOZA e, passado mais um bocado, outro com a palavra GASOLINERA na tentativa de conseguirmos boleia mais facilmente para uma bomba de gasolina.
Não conseguimos nada e decidimos ir para outro spot apanhar boleia. E foi aí que começou

Chegámos lá através do mesmo comboio que nos levou a São Fernando e, depois de perguntar a um velho o caminho para a estacion de autobus, para lá nos dirigimos. Tínhamos o plano de apanhar um bus para Taracena, vimos na net que havia uma estacion de servicio em que dava para apanhar boleia na A2 em direção a Barcelona. O que se seguiu então foi um falhanço total.

Tentámos apanhar boleia desde a paragem dos buses e um gajo num jipe que parou no semáforo, a quem fui perguntar com um sorriso na cara, não teve expressão e disse que não. Passado um minuto passou lá de novo a fazer-nos sinal para entrar no carro.
A primeira boleia! Ia abrir a porta e ele disse-me para saltar para o banco de trás do bote sem teto nem parede.
Levou-nos até à bomba de gasolina, mas não a que queríamos. Tentámos falar com condutores porque pensamos que apenas com os cartazes não conseguiríamos.

Os espanhóis nem são tão antipáticos como se diz, se falarmos com um sorriso na cara mostram empatia. O problema foi que ninguém ia para onde queríamos e nem até à estacion de servicio conseguimos chegar.
Desmotivados pensámos que não iríamos conseguir viajar à boleia com a facilidade que imaginámos.

Criámos movimento e fomos ao supermercado (ar condicionado!) comprar o jantar e procurar local para montar as tendas. Deram-nos boleia até ao Parque del Rio em que ponderámos dormir até vermos um boi lá dentro. Era o zoo de Guadalajara.

Fomos até ao parque de Coquin, que o Gui batizou como Parque dos Coquinados, e deitamo-nos exaustos na relva. Eu e o Gui fomos bater a portas de pessoas para tentar arranjar um pateo trasero para pôr as tendas mas ninguém deixou e voltámos para fazer o jantar.
Fui com o Salema a outro supermercado porque nos esquecemos do esparguete na caixa do primeiro, só que chegados ao sítio indicado percebemos que tínhamos deixado as carteiras nas mochilas e que aquilo não era uma mercearia mas uma loja que vendia molduras. E ainda por cima estava fechada.

Tudo corria mal e era fácil stressar, mas senti que estes momentos pediam para que aceitássemos e ríssemos, flexíveis e sem rigidez quando ao que “devia” ser.
Aposto que o Kerouac diria que é isso que torna a estrada tão estimulante, a imprevisibilidade.
Se nos deixarmos consumir pelo falhanço vamos desmotivar-nos e acredito fortemente que lhe vamos conseguir daravolta.

Fizemos o jantar já com o esparguete e senti-me relaxado e satisfeito depois de um stress exaustivo. O jantar, bolonhesa feita no campingaz, foi o ponto alto daquele dia. Perfeito.
A comida sabe toda surpreendentemente bem quando estamos na estrada.

Arranjámos sítio para dormir: era seguro por as duas tendas entre umas árvores sem sermos vistos. Decidimos montá-las à noite, quando escurecesse. Falámos e comemos e depois fomos montar as tendas. Tava um calor ridículo e suei-me todo. Eu e o Salema pendurámos as malas nas árvores porque na tenda o espaço era demasiado limitado.

Acabei por dormir algumas horas, suficientes, para acordar no dia seguinte com energia para mais imprevisibilidade.

“Nunca consegues ser tão tu quando sabes que te estão a filmar. Há uma pressãozinha fodida.”

6 da manhã. Acordei e estava de noite. Desmontámos as tendas e a falta de sono tornava-nos mais engraçados.

Depois de tirar a mala das árvores e arrumado tudo, comemos. Cerelac. Lavei os dentes no sistema de rega. Sistemas de rega andam a revelar-se extremamente úteis. O resto da malta fez o mesmo.

Fomos a pé até à estação de comboios e cuspimos no rio que tínhamos cuspido quando por lá passámos. Apanhámos comboio para Barcelona às 8h. Falei com o Gui sobre fazer um gráfico de produtividade, escrever percentagens do uso do meu tempo e depois durante 15 dias comparar a sua semelhança ou diferença com a realidade, de forma a mudar e ser mais produtivo com consciência disso.

Relaxante, estar no comboio e não estar preocupado com para onde ir. Dormi uma beca e tivemos de sair do comboio em Caspe porque havia un troço en construction, como disse o pica simpático com cara de Hernando.

Fomos o resto do caminho até Barcelona de bus e ajudámos um francês que também ia para o mesmo destino. Ele não percebia nada, nem 2 palavras do que eu dizia, o que me fez considerar a possibilidade de estarmos fodidos em França. Mas isso é um problema para o meu eu futuro.

Chegámos a BCN.

Assim que chegámos senti-me bem por estar novamente em Barcelona. Há qualquer coisa nesta cidade que me puxa para lá ficar. Vi uma gaja loura gata a skatar e senti imediatamente o ambiente de Barcelona totalmente inundado pela cultura do skate. Fiquei com pena de não ter trazido o meu.

O Gimbras veio ter connosco a Barcelona e ficámos cinco. Fomos até ao Airbnb que tínhamos alugado, um apartamento brutal. Chillámos na varanda do quarto andar e fomos tratar do jantar. Fizemos umas pernas de frango com arroz e bebemos jola. O Félix apareceu. Sempre engraçado. Aí conhecemos a Neuza.O senhorio tinha dito que havia uma senhora com uma doença muito sensível ao barulho. Pensámos que fosse só uma peta que inventou para não fazermos barulho, mas logo a seguir ao jantar ela apareceu a pedir para baixarmos o volume.

Jantámos, rimos, bazámos de casa e passámos na alimentación. Percorremos a Grand Via de Les Corts Catalanes a pé em direção ao centro da cidade e, por entre ruas, surgiu o MACBA a espreitar.
Fomos até ao spot de skate mais conhecido da Europa e a vibe tava incrível. Dezenas (centenas?) de latas no pavimento em frente ao museu de arte contemporânea de Barcelona e as vozes e os risos altos eram abafados pelo barulho ensurdecer de rodas de skate a bater contra o chão.

Comprámos cerveja a vendedores de rua e sentámo-nos no curb mais baixo. Pedi o skate a um alemão e ainda saquei um flip, um tre e um bigspin apesar da descoordenação motora do momento e dos ténis de caminhada que usava.

Imagino-me tanto a viver nesta cidade, cheia de vida, skate e pessoas de todo o mundo.

“Esta cidade é um festival!” disse o Janito.

Entretanto conhecemos o Sami, o francês leão que fazia anos. Falámos com ele, filmámos umas cenas a viver e, assim que decidimos bazar, a bófia decidiu aparecer a tirar toda a gente de lá. Deve ser dos melhores spots para passar à noite em BCN.

Continuámos a andar e lembrei-me que tinha deixado dentro de uma porta-grade uma tábua de skate e lembrei-me de ir ver se ainda estava lá. Não estava, mas ao espreitar por baixo da grade vi uma outra tábua roxa e uma bola.
Quis bué. Puxei para abrir e não dei. Skatei com o skate de um zuca uns minutos e, a seguir, tentámos todos abrir a porta. A minha força x5 abriu a porta facilmente e inesperadamente soou um alarme que nos fritou todos e me obrigou a correr com a tábua numa fuga por entre várias ruas. Eles disseram que ouviram sirenes da polícia, mas eu não ouvi nada.

Passeámos pelo bairro gótico e a seguir fui com o Salema e fomos mais longe. A viagem até casa foi um inferno quilometrado mas chegámos, comi cerelac e dormi.

Depois de nos despacharmos saímos do prédio. Entrámos no metro e ficámos 10 minutos a ver se valeria a pena comprar o bilhete de 10 viagens, até que uns ingleses passaram por nós e perguntaram “Do you want some tickets?” e deram-nos 7 bilhetes. Obrigadão ao universo. Parece que a vida, ou o que quer que seja, maior do que nós, não nos queria ali a perder mais tempo.

Almoçámos umas sandes e fomos de metro até à Barceloneta, à praia.
Mergulhei no mar mediterrâneo e soube inexplicavelmente bem. Se calhar é explicável. O calor da rua contrastava com a frescura quente do mar. A água estava tão quente. Procurámos pedras e guardei 5 no bolso. Tava tão quente que só me apetecia sair e entrar para ter aquela sensação de novo.

Só sei que dissemos que íamos fazer isto e fizemos mesmo.

Bazámos, depois de tomar duche no chuveiro, bebi uma cola e tive quatro esgotamentos nervosos ao observar raparigas lindas de todos os cantos do mundo. O Salema disse que já usou mais vezes as palavras ‘ganda gata’ em 10 minutos em Barcelona do que num dia inteiro em Portugal.
5 minutos depois estava eu a vê-lo tomar banho num bebedouro de rua. Passeámos pela parte moderna da cidade e fomos comprar o jantar.
Comemos e bebemos em casa, queimei uma beca de cabelo numa vela aromática e cheirou a pipoca. O Gimbras diz que foi a porco. Não sei. Bazámos do apartamento e fomos de metro onde vimos uma barata a comer uma pipoca, possivelmente a pipoca do meu cabelo.

Já escuro, fomos até às Ramblas e acabámos por ir parar ao bar que uma miúda nos sugeriu: Ovelha Negra. Canecámos e falámos com pessoas à toa de outros países. Bazámos. Ouvi Arctic Monkeys pelas calles do Bairro Gótico, até chegarmos à praia. Claro que falámos com meio mundo entretanto mas não me lembro de pormenores.

Na praia, mergulhámos outra vez no paraíso, só que desta vez nus, e curtimos as massagens que as pedras nos faziam quando as nossas costas deslizavam nelas ao mesmo tempo que a rebentação nos puxava e empurrava para dentro e fora de água.

Depois andámos completamente à toa, como o destino desta viagem, e vimos relâmpagos no céu durante meia hora. Sempre que um relâmpago se via, ouvia-se um “ohhhh!” coletivo e vários gritos.

Voltámos para casa de Uber. Acabo de me aperceber o quão ridículo isso foi tendo em conta que isto é uma viagem à boleia. Mas pensando bem, um Uber pode ser considerada uma boleia, só que paga.

Como chegámos primeiro que o Salema e o Gui que tinham a chave, ficámos num banco à espera. O Gimbras e o Janito subiram, eu quis ficar mais um bocado, adormeci deitado a ouvir Arctic Monkeys e roubaram-me o telemóvel. Tripei-me todo mas decidi não stressar mais com isto. Fui dormir depois de 45 minutos a mudar passwords.

(update: passado um mês o telemóvel foi localizado em Marrocos.)

Acordei, tripei mais um bocado mas tivemos de fazer o checkout do apartamento e ser pragmáticos em pouco tempo. Saímos do prédio e almoçámos numa tenda de bocadillos.
Apanhámos metro para o centro e fui arranjar outro telefone. Dito assim parece fácil mas custou-me um rim. Durante todo este processo tanto eu como o Salema trepámos demasiado com o facto de haver demasiadas gatas no Agosto de Barcelona.

Despedimo-nos da cidade às 16h e tal e apanhámos comboio para Santa Susana, um spot com serra e mar que o resto dos gajos encontraram depois de pesquisar nos Macs da apple store enquanto eu tratava de arranjar um telefone novo. Quase de certeza que se não mo tivessem roubado, não teríamos vindo para aqui.

Depois de uma viagem de comboio com chuva torrencial e relâmpagos, em que tivemos uma conversa com umas russas que se estavam a rir demasiado para a piada que o diálogo teve, chegámos a um sítio que parece o Algarve de Espanha. Comprámos uma sweat cada um e fomos ao LIDL comprar o jantar.

Saímos de lá e tentámos bater em portas de casas para dormir. Originalmente íamos acampar na serra mas disseram-nos que há cães de caça e isso seria uma forma muito estúpida de morrer.
Na primeira casa que batemos o gajo foi mal educado e mandou-nos embora.

A segunda foi a casa da pessoa mais fixe que conheci nesta viagem até agora, a Anna, uma senhora já nos seus setentas que nos abriu a porta depois de uma leve hesitação. Levou-nos para dentro de casa e deu-nos o melhor spot para dormir, onde obtive a melhor noite de sono de toda a viagem.
Uma cave gigante com um sofá gigante. Foi mega simpática, deu-nos colchões e o comando do portão da rua para se quiséssemos sair. Disse-nos que podíamos vir às horas que nos apetecesse desde que não nos “enborrachássemos”. Cozinhámos o jantar lá e bazámos à noite para passear.

É incrível como tudo pode acontecer e quase me custou a acreditar na bondade e genuinidade daquela senhora. O sorriso que esboçou ao dar foi lindo de se ver, e o nosso ainda maior. Nem sei quantas vezes disse muchas gracias durante toda a estadia. As possibilidades, abertas. Estou cansado, mas feliz.

O passeio foi bacano. Brincámos num parque infantil e vimos mais relâmpagos sentados na praia. Não levei telefone e não me lembrei uma única vez de por a mão no bolso. Tive só a curtir, presente.
Voltámos, comemos qualquer coisa e fomos para o reino dos céus. Isto foi tão foleiro.

Parece que estamos nesta viagem há muito mais do que estamos.

Acordámos depois de ganda soneca e a Anna deu-nos uma beca de presunto. Depois de arrumarmos as coisas conhecemos o neto dela, um espanhol de 18 anos com a voz demasiado grossa.
Fomos ao supermercado comprar coisas para fazer sandes na praia e uma flor cor de laranja para oferecermos à Anna como símbolo da nossa gratidão. Ela sorriu e seguimos viagem.

Comemos bandas sandes de atum e curtimos a água mediterrânea.
O Janito e o Gui ficaram a meditar e fui com o Salema e o Gimbras comer qualquer coisa com ele. Roubei maionese. A princípio isto pode parecer um ato estúpido mas a maionese de supermercado estraga-se depois de aberta e a que está nos pacotes selados não, pelo que foi um move de génio.
Voltámos e fomos à procura de sítio para dormir. Nesta viagem as maiores e únicas preocupações aproximam-se das necessidades básicas de sobrevivência.

Depois de algum tempo a procurar casas, sem dar em nada, acabámos por decidir ficar a dormir ao relento na praia e fomos comprar frango. Pensámos em enterrar as malas em sacos de plástico para podermos ir sair mas acabámos por encontrar uns arbustos em que escondemos as nossas coisas. Deixámos outro saco com os sacos de cama e as colchetes e fomos sair.

Bebemos umas jolas, procurámos sítios para sair sem serem clubs me(r)drosos mas nada. Até encontrarmos um bar chamado Monkey Thai. Passados uns quartos de hora paguei uns shots a todos, apesar de eu ter escrito na lápide da minha personalidade que não bebo tal coisa.
Do nada estamos no balcão com as bartenders, completamente narsas, a despejar-nos líquidos assustadores para os copos e diretamente para a boca. O bar estava vazio mas parecia estar cheio. Só ouvia o Gimbras a dizer “está muy fraco!” e elas a encherem-lhe o cocktail a transbordar.

Passadas 6 horas acordo com o sol a queimar-me a pele, níveis de energia na reserva. Foi nesse momento que percebi o erro que foi ter quinado na praia. Enfim, tínhamos de viver.
Passámos esse dia a mergulhar, apanhar pedras bonitas e comer. Almoçámos num restaurante, vimos uma gata grávida e um senhor, dono de um cão a quem fui fazer festinhas, disse-me que podíamos ficar a dormir em casa dele se passássemos por Montpellier.

O Gimbras bazou para o aeroporto e nós fomos apanhar o comboio.
Depois do turismo algarvio que sentimos vivo em Santa Susana, decidimos ir para uma vila medieval chamada Tossa, simplesmente porque chamou à atenção.

Todos os dias traçamos o plano desse dia e não fazemos ideia do que vai acontecer a seguir. Acho que, por isso, estamos mais presentes. Estamos constantemente a ver coisas novas.
Eu e o Gui ouvimos sons coordenados no phones e dançámos na estação. Apanhámos o comboio e, em Blanes, um bus, e chegámos a

Perguntei, por intuição, a um taxista sítios fixes para acampar e se havia caça, como em Santa Susana. Ele disse que ali era tranquilo e falou-me de um sítio lindo chamado Cala Bona, que mais tarde descobrimos como paraíso.
Fomos às compras comprar cenas para fazer o jantar, almoço e jantar seguintes e apanhámos um taxi porque estava a ficar escuro e ainda o sítio ficava a uma hora a pé.

Chegámos e procurámos spot para montar as tendas. Conseguíamos ouvir o mar a bater nas arribas e subitamente uma luz saltou-nos à vista no meio da escuridão. Uma voz, atrás da luz, indicou-nos o caminho para contornar as arribas e chegar até ao outro lado, onde o taxista nos tinha indicado como o sítio perfeito para pôr as tendas.

Encontrámos um spot no topo de uma pequena península ladeada por arribas e uns fizeram o jantar enquanto os outros montavam o abrigo. Por causa do escuro não conseguimos perceber mais do que algumas sombras e o som do Mar Mediterrâneo a bater nas rochas lá em baixo. Estávamos alto.

Fomos dormir cedo à espera de ver a extensão de mar de manhã, através da abertura da tenda.

Todos os dias acordei com o Gui a acordar. Este gajo mal desperta levanta-se e começa a viver, em vez de demorar um bocadinho a iniciar o corpo como o resto das pessoas normais.
Acordei com calor num espaço minúsculo com o Salema ao meu lado e saí da tenda ainda com os olhos esbugalhados para ver o azul do mar iluminado pela manhã. A luz da manhã é tão diferente de todas as outras alturas do dia.

Meditei com o Gui, fomos dar um passeio pela serra e comemos cereais. Um bófia passou pelo trilho que atravessava o nosso camping e disse-nos que estávamos a interromper o caminho.
Arrumámos as coisas, pusemos as malas noutro spot e descemos da colina para mergulhar no braço de mar que entrava pelas arribas adentro e criava uma zona paradisíaca com água de um azul-esverdeado transparente.

Mergulhámos. Nadei tranquilamente a olhar para o fundo com os olhos abertos debaixo de água. Vi um francês a usar óculos de mergulho e fui pedir-lhos. Nunca tinha respirado pelo tubo de uns óculos de mergulho durante tanto tempo como neste dia. Vi peixes e senti-me um peixe ou pelo menos um ser mais aquático do que sou na realidade.

Mais tarde almoçámos uma salada de atum e grão e adormecemos todos à sombra passageira de uns pinheiros.
Quando acordámos preparámos jantar e comemos, ouvi a flight of the navigator do Gambino no topo da arriba e fomos dormir.

Acordei depois de um bom sono e depois de comer uns cereais na mesma taça que o Janito, fui meditar. Fizemos isto várias vezes para poupar louça.

Senti-me calmo e focado depois de 20 minutos sentado na colina rochosa e foi palpável a diferença que teve na minha disposição durante esse dia. Reagi muito menos a tensões, emoções negativas e conflitos, coisas pequenas que poderiam desencadear reações maiores, por estar mais atento aos impulsos que cada situação criava em mim e por ter maior controlo sobre os mesmos.

Por vezes esqueço-me que o mais importante na meditação é reconhecer os momentos em que a mente se distrai como vitórias por perceber que tal aconteceu, em vez de sentir que falhei, e continuar a prática de novo. A meditação é este início constante porque não é suposto chegar a lado nenhum.
Tínhamos decidido bazar de Cala Bona neste dia por isso fomos dar o último mergulho, e que bem que me soube. Senti a água no corpo e este a fluir pela massa líquida. Dei uns mergulhos e boiei um bocado. Rejuvenesceu-me e depois fomos arrumar as coisas para bazarmos numa caminhada até ao centro de Tossa, onde tomámos banho nos chuveiros da praia, comemos e procurámos maneira de chegar a Girona.

Fomos até uma gasolinera. Pedi a um condutor de um jipe e ele disse que não ia nessa direção. Um BMW branco parou na bomba e o Janito chamou-me a atenção para isso.
Numa viagem como esta não nos podemos dar ao luxo de perder oportunidades por constrangimento ou desconforto, e portanto não pensei duas vezes e fui falar com a senhora que saiu do carro. (“viagem” pode ser a vida)

Confesso que não estava à espera de grande resposta da parte dela e achei que ia ser só mais uma pessoa que não ia nessa direção, depois de todo o falhanço que foi tentar apanhar boleia em Guadalajara. Mas ela sorriu e disse que ia, e subitamente abriu- se uma possibilidade.
Perguntou quantos éramos e, tendo exatamente quatro lugares, metemo-nos pela estrada fora com a segunda Anna que conhecemos. É uma catalã de 47 anos, ligeiramente milf que se revelou a pessoa mais bondosa com que nos cruzámos nesta viagem.

Conversa, conversa, risos, conversa.
Disse que disse logo que sim porque não resistiu ao meu sorriso quando a abordei e aí achei ter hipóteses até, mais tarde, ela falar no marido. Contámos-lhe a nossa história e assim que lhe falámos que andámos a bater a portas apressou-se a oferecer- nos casa para ficar. É inacreditável a confiança que teve em nós. Levou-nos até

onde tinha um apartamento que estava a vender. Disse-nos que, se quiséssemos, nos levaria a Cadaqués no dia seguinte porque tinha de ir lá levar umas almofadas que vendia.

Ajudámo-la a carregar o carro com coisas das mudanças e senti que nos ajudámos mutuamente, não com obrigação ou assim, mas de uma forma totalmente espontânea e natural. Como se não bastasse confiar-nos a chave do carro para o carregarmos enquanto ela arrumava coisas em casa, bem como a chave de casa e nos deixar sozinhos durante essa noite, fez questão de nos cozinhar um jantar cheio de presunto em cima de pão com tomate, pinchos e salsichas com nomes estranhos. Comprámos o pão e bebida e ela quis pagar a carne toda. Para não falar que fez uma quantidade animalesca de comida. Ficámos gratos.

Não jantou connosco porque o marido ia tripar e voltou de manhã para nos levar a Cadaqués.

Pela primeira vez na vida fui acordado pelo Salema que em todas as ocasiões em que dormimos no mesmo sítio é o último a sair do saco de cama.

A Anna chegou bem cedo às 8h e metemo-nos a caminho. Falámos sobre a independência da Catalunha, mostrámos-lhe música e ela falou-nos do seu sonho. Fartou-se de trabalhar e quer agora abrir o seu Hotel para ricos, limitado, em Tossa. Achei boa ideia e fiquei contente por ver alguém que não é propriamente jovem a cagar no trabalho que não a preenche e fazer o que realmente quer.

Paisagens montanhosas e verdes a aparecer nas janelas do carro. Estávamos a chegar a Cadaqués. Fica numa península mesmo no sítio onde os Pirinéus acabam e começa o Mediterrâneo.

Chegámos a uma vila numa baía com uma paisagem ridícula e cores surreais. Foi onde Salvador Dalí viveu grande parte da sua vida. Depois de bebermos um café com a Anna e nos despedirmos dela com abraços fortes e lhe agradecermos por tudo do fundo do coração fomos ter com o Félix e visitámos a casa do pintor surrealista.
Adoro design de interiores e fascinaram-me as ideias ridículas que ele teve para a casa. Colocou um espelho inclinado numa parede em frente à cama especificamente para poder ver o sol a nascer ao acordar. E tinha um urso verdadeiro mumificado no hall de entrada.

Tenho uma citação dele na parede que diz

“The difference between me and a madman is that i’m not mad”

Depois bazámos a pé para o centro e fomos à água límpida e transparente da praia. Enquanto nos deliciávamos o Janito meteu areia na cara e a cor negra fez com que parecesse um soldado no Vietnam. Fiz o mesmo e ficámos com areia nos olhos.
Fomos às compras e almoçámos feijoada, antes de passar a tarde na praia linda daquela vila ventosa. O nível de conforto do Salema atingiu o ridículo quando adormeceu numa areia de pedras na praia, a usar uma pedra maior como almofada.

Saímos da praia, fomos comprar jantar e bater a portas de casas para ficar mas não conseguimos nada a não ser um gajo que saiu de casa descalço para nos mostrar um
sítio ali perto para acamparmos sem sermos vistos. Cozinhámos o jantar com pedras de xisto a proteger a chama do campinas e fomos dormir.
Tínhamos ouvido uns barulhos mas pensámos ser só o vento Transmuntana, o vento forte que passeia constantemente por todo o norte da Catalunha.

Mas eram javalis. A mim pareceram-me inofensivos e até me deu vontade de fazer festinhas mas o resto da malta achou melhor fecharmo-nos nas tendas porque por vezes atacam humanos. Dentro da tenda fui ver à net e consta que acontecem mais ataques de javalis a humanos do que de tubarões.
Adormeci com barulhos de porcos falsos e acordei várias vezes durante a noite acreditando que estava dentro de um avião com demasiada turbulência.

Acordei, com o vento, e comemos uns pêssegos e croissants de chocolate. Tenho-me esquecido de referir que literalmente todos os dias sem exceção comemos pelo menos dois pêssegos do Paraguai cada um e eu ainda não me fartei. Fomos dar um último mergulho à praia, lavámos a loiça de ontem no chuveiro da mesma, comprámos almoço e fomos tentar apanhar boleia para Figueres.

A este ponto o nosso objetivo era chegar a Bilbau, ficar lá uns dias e depois apanhar um bus para casa.
Não conseguimos boleia depois de algum tempo a torrar ao sol e fomos fazer o almoço sentados no chão de uma rua à sombra. Comemos ganda salada, que nos intensificou a boa disposição, e fomos tentar outra vez.
Quero só fazer um parêntesis para referir que desde que chegámos a Cadaqués eu e o Salema temos repetido em diversas situações “Cadaquésdroga?” só porque é estúpido e tem piada. Foi com o Salema que eu aprendi a rir das coisas mais estúpidas.

Em 20 minutos o Gui e o Janito apanharam uma e eu e o Salema apanhámos outra passados 40 minutos. O segredo é não desmotivar e acreditar que vai aparecer alguém.

Apanhámos boleia de um bacano que trabalhava nos barcos em Cadaqués e que ia até Figueres buscar umas coisas a casa e a seguir ia ter com a namorada para “folhar”. Perguntei-lhe o que fazia normalmente depois do trabalho e ele disse, com um sorriso “fumar e folhar!”

Ofereceu-nos cerveja fresca aos dois e deixou-nos ao pé do Museu do Dalí que eu, o Janito e o Gui fomos visitar. Curtimos o museu enquanto o Salema (que não percebe nada de arte nem acho que tenha muito interesse, visto que a melhor parte da Casa do Dalí, para ele, foi descobrir que ambos usavam o mesmo champô da Johnson’s) foi ao Mc e aos montaditos comer e beber jola. Em ambos os sítios fez ambas as coisas. Depois ficámos a beber e a comer nos montaditos.

Já escuro, tocados, precisávamos de encontrar um sítio para dormir e vimos nos mapas um sítio verde próximo, mas ao chegar lá percebemos que era demasiado exposto. Procurámos outro e encontrámos o melhor spot para quinar, num parque mais selvagem onde dormimos ao relento sem tenda.
Acordei com a luminosidade do nascer do dia a espreitar por cima da linha do horizonte e voltei a dormir.

Acordei tranquilo, arrumámos as coisas, comemos numa padaria e fomos tentar apanhar boleia para Olot ou Lleida, que ficava a caminho de Saragoça, que ficava a caminho de Bilbau.

Eu e o Salema, de cartaz na mão e sorriso na cara, apanhámos boleia tão rápido que nem deu tempo para nos aborrecermos ou para sentirmos cansaço nas pernas. A sensação de conseguir uma boleia é tão satisfatória mas contrasta totalmente com a frustração que facilmente nos invade quando esperamos horas em vão.
O Felipe ia a Olot visitar os pais e levou-nos de bom grado. Até se ofereceu para nos mostrar alguns sítios bacanos ali perto quando lhe dissemos que a andar à boleia era mais difícil ver todos os sítios bonitos.
Ofereceu-nos almoço em casa dos pais dele e comemos um peixinho com a mãe dele e com a companha do Lucky, o cão que fazia anos.

Enquanto o Gui e o Janito chegavam a Olot noutra boleia, fomos dar uma caminhada com os nossos dois novos amigos até à cratera de um pequeno vulcão inativo nas paisagens verdes e calmas de Olot. Toda aquela zona é vulcânica, e eles tinham um vulcão praticamente no pateo trasero.
Encontrámos o resto da malta e fomos ver uma aldeia em cima de uma rocha, Castellfollit de la Roca, andar pelas ruas medievais de Besalú e mergulhar num lago brutal ali perto.

Depois deixou-nos num spot para apanharmos boleia e rapidamente conseguimos quatro lugares para Vic com o Paul, um asiático que gosta de viajar de carro, sozinho. Fomos apertados com as malas e vimos as montanhas de Montserrat.

Em Vic, apanhámos boleia para

onde fomos comprar outra feijoada e arranjar spot para dormir. Primeiro ponderámos ficar ao lado de uma casa abandonada mas a ideia dissipou-se quando percebemos que, depois de escurecer, todas as casas abandonadas se transformam em casas assombradas.
Encontrámos um descampado com umas canas e montamos as tendas entre as canas para a bófia não nos ver. É proibido acampar assim à toa na rua. Arrancámos mais canas, camuflámos as tendas e fomos dormir depois de umas risadas.

O Salema queria ter usado o gás pimenta, que trouxe de casa, no que quer que seja que fez barulho nos arbustos mas infelizmente não teve a oportunidade.

Acordámos, comemos, lavámos a louça no ALDI e comprámos almoço. Tentámos apanhar boleia para Lleida toda a manhã mas não conseguimos.

À tarde fomos para uma estação de serviço e ninguém com quem falámos ia para Lleida, nem nessa direção, o que nos desmotivou e trouxe ao de cima todo o cansaço do mundo que tínhamos vindo a acumular.
Falámos entre todos e concordámos que estávamos já cansados e tínhamos imensas saudades da nossa caminha, e decidimos simplesmente bazar.

Às vezes é preciso saber quando parar algo, o que é diferente de desistir, que já deu o que tinha a dar. Parecendo que não, viajar à boleia é cansativo desde o peso que levamos constante às costas até à constante atenção que temos de ter focada no momento para tratarmos do que é essencialmente preciso, mas por outro lado sentimos uma liberdade gigante. Aproxima-se a uma sensação de urgência, de sobrevivência urbana, sem a possibilidade de morrer por não ter comida para essa noite, porque temos
sempre um restaurante, ou por não encontrar um sítio para dormir, porque qualquer coisa ficamos num hostel, e não vamos de certeza ser comidos por predadores.

O plano era não haver plano, mas queríamos chegar a França. O trajeto acabou por ser muito mais curto do que esperava, tinha expectativas para mais e seria até fácil aborrecer-me com isso. Mas há uma frase que diz

“É o falhanço em atingir uma idealização nossa que nos torna, ultimamente, em quem somos.”

e, por isso, estou satisfeito. Esta viagem foi o que foi.

Curtimos, rimos e vimos coisas diferentes. Foi uma experiência nova que me permitiu expandir a minha pequena realidade ao contactar com outras e que me mostrou o poder das possibilidades abertas. Foi um ganda salto para fora da zona de conforto e apesar de algum stress as coisas desenrolaram-se sempre naturalmente bem.
Soube bem carregar todo este peso às costas.

Miguel Luz